Atualmente não há dúvidas de que o exercício físico de rotina é fundamental para a prevenção e tratamento de uma série de doenças, sendo que os seniores têm muito a ganhar na sua qualidade de vida em consultar um técnico especializado para que possam ter o seu próprio programa de atividades.
Esta foi uma das principais conclusões do “webinar” que promovemos através da rádio 91FM e do Facebook, a 6 de maio, numa sessão que contou com a participação online de uma série de profissionais e especialistas na matéria. O seminário online, assistido por milhares de pessoas, foi moderado por Inês Faria (instrutora de Fitness e técnica de Exercício Físico no programa Seniores Mais) e João Carlos Costa da 91FM.
A nossa associação, que proporciona atividades físicas e culturais aos seus associados, num leque muito alargado que inclui desde os bebés aos idosos, quis, desta forma, esclarecer a população sénior sobre qual a melhor forma de se manter mais ativo, mais saudável e mais feliz em tempo de isolamento físico.
“Um dos grupos mais afetados por esse isolamento tem sido a população senior e é a eles que nos dirigimos. Não só diretamente a eles, mas também através dos seus familiares”, salientou Susana Chust, presidente dos Pimpões.
Em relação à saúde mental, a psicóloga clínica Mónica Gaspar (dirigente dos Pimpões) lembrou que estamos a viver uma época em que há muitas incertezas a todos os níveis e isso pode gerar sentimentos desagradáveis. “Há dias em que as nossas emoções parecem um carrinho numa montanha-russa, com muitos altos e baixos”, adiantou.
Para que nos sintamos bem, é importante fazer um estilo de vida saudável, com uma dieta adequada, dormir bem e fazer exercício físico. “Também é importante continuarmos a fazer o que fazíamos antes por nós, como colocar cremes, fazer a barba ou colocar perfume. Para continuarmos a gostar de nós e sentirmo-nos bem”, disse ainda.
Para quem está sozinho em casa, deve-se manter o contato regular com amigos e familiares, através de telefone ou pela internet. Não dar muita atenção às notícias e passar mais tempo de qualidade e de enriquecimento.
“Não devemos esquecer que somos sempre mais fortes do que pensamos. Lembrar os desafios que já superámos e utilizar essa capacidade para agora gerir as emoções”, concluiu, lembrando que todos estão a fazer isto pelos outros.
A médica de família Mara Marques (Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados das Caldas da Rainha) referiu como a massa muscular de uma pessoa vai diminuindo à medida que envelhece e isso leva a que haja uma maior fragilidade do corpo. A diminuição da massa muscular leva também a que o metabolismo diminua. “Uma pessoa menos ativa, que faça menos exercício físico, poderá ter uma maior propensão a doenças metabólicas”, como é o caso da diabetes, do colesterol elevado e a hipertensão.
Quer como prevenção, quer como tratamento (para os que já têm estas patologias) o exercício físico traz muitos benefícios.
Para além da questão metabólica, o exercício físico vai melhorar também a qualidade de vida porque melhora a atividade articular e diminui a osteoporose.
A médica contou como tem muitos casos de doentes mais idosos que notaram grandes melhorias na sua mobilidade depois de terem começado a fazer exercício físico, apesar de inicialmente terem muitas reservas em fazê-lo. “Acham sempre que não têm idade para isso, mas eu digo-lhes sempre que todas as idades são boas para praticar exercício físico”, adiantou.
Depois de começarem a seguir as prescrições da médica, são muitos os que acabam por confessar grandes melhorias, algumas que parecem simples para os mais novos, como de conseguir voltar a atar os sapatos.
A somar a tudo isto, há também a componente do bem-estar emocional, principalmente por causa da produção de endorfinas. “As pessoas passam a sentir-se melhor e vão também dormir melhor”, afirmou.
Mara Marques salientou ainda a importância do técnico do exercício físico para prescrever quais os exercícios que cada um pode e deve fazer, porque são eles que estão habilitados para isso. “Isso é fundamental e deixa-nos, aos médicos, mais descansados que existam instituições como os Pimpões, que acompanham os nossos seniores”, referiu.
Em casa é possível realizar vários pequenos exercícios que são muito importantes para os idosos e há utensílios que podem ser adaptados, como uma cadeira ou uma garrafa de meio litro com areia. É que, mais importante que as caminhadas (treino aeróbico), é o treino de força e esse pode ser feito cumprindo o isolamento.
Fátima Ramalho, docente na Escola Superior de Desporto de Rio Maior e Doutorada em Ciências da Motricidade, também salientou que as pessoas têm de ser acompanhadas por profissionais de exercício, competentes para a prescrição individual. Como acontece nos Pimpões, a primeira abordagem deve passar por uma avaliação da condição física e funcional do utente. Mesmo nesta altura, é possível realizar uma avaliação online e dar aconselhamentos.
Um profissional saberá aconselhar, corrigir e implementar as melhores técnicas de execução, que serão fundamentais na prevenção das lesões e assim garantir a continuidade de um programa de exercício físico.
A docente universitária também deu alguns conselhos, nomeadamente permanecer pouco tempo seguido sentado ou deitado durante o dia ou ter rotinas de mobilidade articular (espreguiçar, por exemplo). “É importante quebrar as horas que temos de tempo sedentário” quando estamos em casa. Deu como exemplo o seu pai, com 89 anos, que tem como um dos exercícios diários subir e descer as escadas do prédio onde mora.
Em relação à utilização da força, há gestos como pentear, apertar uma camisola na parte de trás ou limparmo-nos no final do banho.
“Numa sessão supervisionada por um fisiologista do exercício vamos aprender como fazer bem e como progredir, mas no dia-a-dia temos também que nos ocupar”, comentou.
Para Pedro Morouço (Fisiologista do Exercício e Coordenador do mestrado em Prescrição de Exercício e Promoção da Saúde no IPLeiria) é fundamental que, para além do conhecimento teórico, o profissional de exercício físico seja alguém que tenha também competência para conseguir encontrar o que cada pessoa mais precisa em determinado momento.
A Direção-Geral de Saúde tem um programa que implementou de consultas de atividade física no Sistema Nacional de Saúde, no qual Pedro Morouço participa como fisiologista do exercício. “Foi um primeiro passo muito significativo para chegarmos junto da população e daqueles que precisam de compreender claramente os benefícios que advêm da prática de exercício regular”, explicou.
Por exemplo, os resultados dos exercícios podem ser mais significativos se forem pequenos e realizados diariamente, em vez de serem mais demorados mas menos regular.
Desde que iniciou estas consultas, Pedro Morouço tem tido vários exemplos de utentes que lhe têm transmitido como os resultados são benéficos para a sua saúde. Daí também a importância da cooperação entre os médicos de família e estes profissionais. “São eles os principais impulsionadores para esta mudança de comportamento”, afirmou.
Maria Spratley (Mestre em Atividade Física para a Terceira Idade e CEO do espaço Ginástica+50) salientou a necessidade de haver mais cuidado quando se fazem os exercícios em casa, uma vez que não é possível um acompanhamento pessoal. “Nesta fase interessa mais fazer movimentos controlados, porque não há ninguém a ver”, afirmou.
Tal como tinha referido Mónica Gaspar, a especialista considera que é muito salutar psicologicamente estar a praticar exercício, também porque leva as pessoas a estarem focadas noutros pensamentos “desligando da situação em que vivemos”.
Maria Spratley voltou a referir a importância do “trabalho de força” que pode ser feito simplesmente com agachamentos, de forma lenta a descer e a subir, utilizando-se uma parede para servir de encosto ou de apoio. “É extremamente importante utilizar a força dos membros inferiores e dos glúteos”, disse. No entanto, varia de caso para caso, haja mais ou menos limitações.
A componente respiratória deve ser também feita com atenção, inspirando e expirando da forma mais adequada.
Há alguns desafios que se podem cumprir, como por exemplo, recitar a tabuada enquanto se fazem agachamentos. Isso faz com que o foco no exercício seja maior e há uma prevenção na regeneração neural. Há outros truques a esse nível, como trocar a mão com que se lavam os dentes.
Patrícia Mendes, diretora técnica da associação, apresentou o programa municipal Seniores Mais, do qual é coordenadora, que foi criado exatamente tendo como principal objetivo a melhoria da qualidade de vida da população sénior caldense através da prática regular de exercício físico.
O projeto pretende potenciar um trabalho multidisciplinar com uma relação de proximidade entre os profissionais de saúde e os Técnicos de Exercício Físico (TEF), tendo sido estabelecido um protocolo entre a Câmara Municipal das Caldas da Rainha e a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo.
“Quisemos criar uma ligação estreita entre o profissional do exercício e o profissional de saúde”, realçou Patrícia Mendes. Foi já estabelecida uma parceria com o Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Norte. A equipa médica do ACeS Oeste Norte vai passar a aconselhar o programa aos utentes com mais de 55 anos residentes no concelho das Caldas da Rainha e a equipa de TEFs do programa realizará a Avaliação Inicial da Condição Física e a Prescrição de Exercício, sendo que o relatório final é entregue aos médicos.
Patrícia Mendes alertou para o facto de haver quem faça prescrição de exercício físico sem para tal estarem habilitados, o que se pode tornar perigoso.
A responsável lamentou que a situação atual tenha impedido o normal desenvolvido deste projeto, assim como afetando os seniores que já estavam a ter aulas. A resposta possível foi utilizar a página de Facebook (www.facebook.com/senioresmais) para dar apoio aos seniores que estão em casa, neste caso não só das Caldas da Rainha, mas qualquer pessoa que queira aderir.
Há um maior cuidado na partilha de conteúdos, com vídeos de exercícios mais curtos com conselhos importantes, em vez de uma hora de aula, por exemplo. Segundo Inês Faria, têm tido comentários muito positivos por parte dos utilizadores, que têm aproveitado ao máximo os vídeos publicados.
Maria da Conceição Pereira, vereadora da Ação Social nas Caldas da Rainha, falou do importante trabalho realizado pela Universidade Sénior Rainha D. Leonor, ao desenvolver uma série de atividades físicas e culturais para a população mais velha do concelho. Os Pimpões têm sido uma das coletividades mais participativas no apoio aos idosos, tendo sido criadas pelo município diversas estruturas que colaboram nesta missão.
Apesar do confinamento, a Universidade Sénior continuou a trabalhar com os idosos que estão em casa, desafiando os professores (28 no total) a realizarem propostas aos seus alunos, mantendo desta forma a sua atividade diária. Também têm sido confecionadas muitas máscaras comunitárias e batas por alunos desta instituição, distribuídas por quem mais precisa.
Fernando Braz, técnico superior de Desporto do município caldense, é também professor de ginástica de manutenção na Universidade Sénior, tendo falado da sua experiência de contato com os alunos, aos quais envia alguns exercícios e dá conselhos, não só com algumas atividades simples, mas também ao nível da alimentação e dos cuidados de higiene.
No final, os preletores fizeram um balanço muito positivo deste “webinar” e apelaram à partilha dos conhecimentos difundidos, para que todos possam usufruir dos conselhos.
O “webinar” pode ainda ser visto através do endereço: https://www.facebook.com/91fmradiopt/videos/670118603555370/
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